quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

DESENCONTRO II

Ergam seus cálices - a noite convida.
Hoje pouco importa o valor da despesa!
Se falta uma taça por sobre essa mesa
Outro dia volta, hoje está perdida.

Importante é não torná-la esquecida...
Alguém, outro cálice erga com firmeza
Ofereça um drinque a “senhor tristeza”,
Quem por essa mesa dava a própria vida.

Eleve outro drinque e beba à vontade
Sem ligar pra angústia que a outros invade;
Junte-se aos que dão alegria e calma.

Por aqui, eu fico com os que me mentem...
Maior que a euforia que hoje vocês sentem
É a dor que eu sinto por dentro da alma.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

PRO NORDESTE IR AO MUNDO SÓ PRECISA / DO REPENTE, A VIOLA E UM CANTADOR

No final de uma crônica sobre cantadores nordestinos, no seu blog, o poeta, compositor e cantor Sergio Lopes deixou-me este mote e eu resolvi glosá-lo agora.
“PRO NORDESTE IR AO MUNDO SÓ PRECISA
DO REPENTE, A VIOLA E UM CANTADOR”.



Nossa terra é de vates de bravura,
Onde a sede maior é a do saber;
Apesar de o talento florescer
O governo diz “não” para a cultura.
Mesmo assim aqui temos a mais pura
Poesia que pode um trovador.
Somos todos poetas, sim senhor!
E afirmo a quem se sensibiliza:
“PRO NORDESTE IR AO MUNDO SÓ PRECISA
DO REPENTE, A VIOLA E UM CANTADOR”.

Prá galgar outras terras nós não temos
Aparatos sutis tecnológicos,
Armas fúteis, foguetes antilógicos
E da bomba de nêutron nem sabemos.
Só da simplicidade nos valemos,
Nosso exército é de “improvisador”.
Se chamado pra guerra um dia eu for
Pego o pinho e nem troco de camisa.
“PRO NORDESTE IR AO MUNDO SÓ PRECISA
DO REPENTE, A VIOLA E UM CANTADOR”.
.
Nós não somos celeiro de inventores
Que só criam o que fere e extermina,
Não trazemos uma ave de rapina
Como escudo, endeusando malfeitores.
Nossos ídolos são todos trovadores,
Nosso lema ‘inda é paz e amor,
Nossa ave de símbolo: beija-flor
Que nos campos floridos se eterniza.
“PRO NORDESTE IR AO MUNDO SÓ PRECISA
DO REPENTE, A VIOLA E UM CANTADOR”.

Quem despreza o talento nordestino
Desconhece, portanto, a sua saga.
Quem não lembra da música de Gonzaga?
Quem esquece o poeta Marcolino?
Quem não vê o que faz Zé Laurentino
Desconhece da lira o seu primor.
Leonardo Da Vinci foi pintor
Mas no verso eu supero a "Mona Lisa".
“PRO NORDESTE IR AO MUNDO SÓ PRECISA
DO REPENTE, A VIOLA E UM CANTADOR".

Campina Grande, 06 de outubro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

UMA ESTROFE

SE NÃO VENS, EU PROCURO, E, PROCURANDO,
POSSA SER QUE EU ENCONTRE UMA RAZÃO
PRO BEM FEITO DE TER OS PÉS NO CHÃO,
E DO ORGULHO SAFAR-ME, PROSPERANDO.
O QUE TENHO É TÃO POUCO E ESTOU DANDO
SEM PEDIR, SEM ME OPOR E SEM BARGANHA;
EU SÓ QUERO ENCOLHER ESSA TAMANHA
DIFERENÇA QUE INIBE A MINHA FÉ.
SE A MONTANHA NÃO VEM A MAOMÉ
MAOMÉ PARTE EM BUSCA DA MONTANHA


Campina Grande, 18 de setembro de 2009.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

MEU AMIGO DE INFÂNCIA II

Esperei todo o janeiro
Pra renovar meu abraço.
Depois veio fevereiro,
Consequentemente março,
Abril, maio, junho e julho,
Agosto e, pra meu orgulho
Do ano passei do meio.
Setembro, outubro e novembro
Se foram... E com dezembro
Graças a Deus você veio!

Você veio nos trazer
Tantas saudosas lembranças,
Hoje vamos, com prazer,
Retornar a ser crianças:
Contar as mesmas piadas,
Dar as mesmas gargalhadas,
Soltar-nos sem ver perigo;
Cantar pular e beber...
Meu Deus, como e bom lhe ver,
Como é bom ser seu amigo!

Que Deus mantenha este laço
De afeto que nos liga,
Pra que a extensão deste abraço
Tome pé, voe e prossiga.
Aqui, onde pro “marmanjo”
Bebidas servem de arranjo,
Tendo as mesas por mobília;
Por cima de qualquer plano
Se reúne todo ano
A nossa GANDE FAMÍLIA.

Muito obrigado a você
Que tamanho esforço fez,
Que se fez por merecer
Estar aqui outra vez.
Ao vê-lo de novo eu fico
Envaidecido e tão rico
Meu peito de amor transborda.
Nesta luz que nos excita
O meu coração saltita
Como quem brinca de corda!

Mas eu quero agradecer
- De alma e de coração -
Principalmente a ”você”
Por um nosso ausente irmão
Que quando daqui mudou-se,
Na sua casa hospedou-se
E quando lhe agradeceu
Da maneira mais cabível
Você foi muito insensível,
Jamais o compreendeu.

E você que ainda insiste
Em brincar de esconde-esconde;
Que não veio, mas tá triste,
Saudoso quem sabe aonde?
Enriquecendo o seu nome,
Que toda glória se some
Á nossa extrema amizade.
Não está só, lhe garanto
Que vou beber o seu pranto,
Vou brindar sua saudade!

Não deixe que a distância
Apague em sua memória
Os seus amigos de infância,
- Capítulos de sua história.
Que tenha luz seu futuro...
E pra que siga seguro
Nessa caminhada sã,
Honestamente me deixe
Que daqui lhe mande um feixe
De raio de sol da manhã!

E a você, amigo meu,
De tanta sinceridade,
Do meu peito para o seu
Reina só fidelidade.
Parabéns pelo bem feito
Casamento, e que em seu leito
Não apareçam empecilhos.
Além de amor e paz,
Que Deus lhe dê muito mais
Que boa esposa e bons filhos!

Muito obrigado a você
Na vida, bem sucedido
E igualmente aquele que
Foi menos favorecido.
Aqui no nosso rebanho
Temos o mesmo tamanho
E a virtude unificada.
Ninguém é mais que ninguém!
Muito obrigado a quem tem
Milhões e a quem não tem nada!

“Amigo é pra se guardar
Do lado esquerdo do peito”.
Se querer, se sublimar,
Se curtir, se ter respeito.
Provar que você existe
Faz minh’alma outrora triste
Safar-se agora em prazer.
Lhe espero no Ano Novo...
Feliz Natal pro seu povo,
Foi bom estar com você!


Campina Grande, l7 de dezembro de l994.

Era o segundo ano (o segundo encontro)
Que me perdoe o leitor por alguma aspereza identificada, mas o poema foi publicado na íntegra.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

MEU AMIGO DE INFÂNCIA I

Como é que vai, meu amigo,
Como você tem passado?
Venha escutar o que eu digo
Sentado aqui ao meu lado!
Hoje meu peito palpita
Na expressão mais bonita
Que consegue um coração.
Se aguçam nossos sentidos...
É que estamos reunidos
Em confraternização.

Conta-me das coisas loucas
Vividas por este mundo.
Nossas horas são tão poucas...
Vivamos cada segundo!
Ah, se o tempo se esticasse
Como que nos abraçasse
Ampliando esta quimera...
Esta fé que nos ostenta
Tem trezentos e sessenta
E cinco dias de espera.

Mas quanta formalidade
Deram à criança que fomos!
Como dói a sociedade
Pro adulto que hoje somos.
Como é mesquinha a missão!
E só por esta razão
Infelizmente não pude
Trazer para a brincadeira
O pinhão, a baleeira,
A pipa e as bolas de gude.

Da SANBRA, o muro, não pude
Pular pra trazer goiabas,
Nem tampouco ir ao Açude
Velho pra trazer piabas...
Nem pude passar depois
No barreiro do arroz,
Onde costumava estar,
Pois gananciosos seres
Acabaram com os prazeres
Que um dia deixei por lá.

Não pude vir no “morcego”
De trem pois, pra ser sensato,
Foi que Wedson, esse “nêgo”
Disse que ficava chato.
Que tamanho eu não mais tinha,
Podia cair na linha...
Me impôs mil empecilhos.
Não é disso aí que venho!
E o pior é que tenho
Que dizer isso aos meus filhos.

Ai, tempo que leva e traz,
Destino que prende e solta,
Dêem-me só uma vez mais
O meu passado de volta!
Em troca lhes ofereço
O que eu tenho; qualquer preço
Por um minuto da vida
Onde eu tive, com vaidade,
Meus tempos de liberdade
Na LIBERDADE querida.

Ah, quem me dera a bonança
De ter de novo essa aurora...
De voltar a ser criança
Por um minuto de agora.
Retornar, com privilégio,
Para os bancos de colégio,
Aos coleguinhas de classe,
Onde a gente se escondesse
Do tempo e ele nos perdesse
E nunca mais se passasse!

E ter você, meu amigo,
Puro e seguramente
Pra poder também, comigo,
Ser criança eternamente.
Viver sem lamentações,
Não perder as ilusões,
Nos homens manter a fé.
Iludido, mas feliz!
Sem prevê que este país
Um dia chegue ao que é.

Mas meu sonho na verdade
Não tá longe de existir...
É real pela metade,
Pois você está aqui.
Embora já crescidinho
Você vem trazer carinho,
A luz da sua presença.
Se um dia errei me perdoe,
Mas que Deus nos abençoe
Pra nunca haver diferença.

Muito obrigado por ter
Atendido ao meu chamado.
Por existir e viver,
Por hoje aqui ter chegado.
Pois neste mundo hoje em dia,
Onde em nada confia
E vê-se em tudo perigo,
É grande a satisfação
De apertar sua mão
E lhe chamar MEU AMIGO!


Campina Grande, 18 de dezembro de 1993.

(Composto no primeiro encontro dos amigos de infância do Colégio da Liberdade)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

QUATRO ESTROFES PRA MAMÃE

Vou lembrar mamãe agora
De forma branda e singela,
Mesmo porque lembrar ela
Me acontece a toda hora.
Meu peito saudoso chora,
Minh’alma se distancia.
Buscando aquela que um dia
Foi minha melhor parceira,
“A SAUDADE É COMPANHEIRA
DE QUEM NÃO TEM COMPANHIA”.

Lembro-me bem de uma “peia”
Que mãe me deu, no passado,
Por eu pegar um “puxado”
Brincando no pó da areia.
Mas à noite, após a ceia,
Decerto eu descansaria!
Enquanto ela não dormia
Junto à minha cabeceira...
“A SAUDADE É COMPANHEIRA
DE QUEM NÃO TEM COMPANHIA”.

Nesses seus cuidados tantos,
Às vezes se angustiava
Se acaso eu choramingava
Buscando o ar pelos cantos.
Mamãe, já chegando aos prantos,
Me abanava e me cobria.
Que falta eu sinto hoje em dia
Da minha santa enfermeira!
“A SAUDADE É COMPANHEIRA
DE QUEM NÃO TEM COMPANHIA”.

Um dia o destino atroz
Numa triste madrugada
Mostrou-me mamãe deitada
Sem luz nos olhos, sem voz.
Nem permitiu seu algoz
Eu escutar nesse dia
Quem jamais me deixaria
Sem a bênção derradeira.
“A SAUDADE É COMPANHEIRA
DE QUEM NÃO TEM COMPANHIA”.


(Dedico, "in memoriam", à Dona Neide mãe do Poeta Rangel Júnior)

Campina Grande, julho de 2009.

terça-feira, 14 de abril de 2009

AMARGURA

Hoje passa faceira na calçada
A mulher que já foi tempos de outrora
Minha doce paixão, minha senhora,
Meu amor, minha amante e namorada.
Em que pensa ao passar? Talvez em nada...
Nada há que ela possa reviver?
Esquecer o que fomos, pode ser,
Posso até aceitar que disto esqueça,
Mas me dói vê-la baixar a cabeça...
Neste gesto, fingindo não me ver.

Campina Grande, 14 de abril de 2009.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

UMA DÉCIMA

Eu canto porque cantando
É que encanto a minha vida,
Dou uma contrapartida
A quem quer me ver chorando.
E pouco vou me lixando
Se a vida está boa ou ruim...
Vou de peito aberto assim
Pra forca, cantarolando,
Mesmo a corda me apertando
Vou cantando até o fim!


Campina Grande, abril de 2009.

terça-feira, 31 de março de 2009

PÁSSARO FERIDO

Canário, que trila ardente
No galho da goiabeira,
A tua musa altaneira
Também trila de contente.
Os dois, juntinhos, somente
Tomam conta do festim.
Comigo já foi assim...
Hoje estou neste fadário:
A minha musa, canário,
Não quer mais cantar pra mim.

Vivo cantando sozinho
Sem escutar sua voz,
Pois quis o destino atroz
Que ela abandonasse o ninho.
Me responda, canarinho:
Aonde foi que eu errei?
Será que desafinei
No meu canto desvairado
Tanto assim, que perdoado
Por ela eu não mais serei?

Será que o meu pecado
Por menor que parecesse
Foi tanto que eu merecesse
Por ela ser desprezado?
Será que meu malfadado
Destino é viver sem ela?
Tomara que esta procela
Não vigore e tenha fim!
Fica penoso pra mim
Ter que cantar longe dela.

Me diga onde agora voa
Tão faceira, tão frajola.
Pois pra prendê-la em gaiola
Não existe uma pessoa.
Você, que vagueia à toa
Singrando esses céus a fora
Lhe implore que volte agora
Pois, se já cantei errado,
Fiquei mais desafinado
Depois que ela foi embora.

Tu que cantas nas alturas
Com pureza e sem desdém,
Com a grandeza de quem
Ignora partituras,
Vê se abranda as amarguras
Por que passa o trovador.
Ide à busca, por favor,
Porque sem ela, a dueto,
Me sinto igual assum preto:
Cego e cantando de dor!

Por isto, meu amiguinho,
Peço pela última vez:
Desfaça o que ela me fez,
Não queira me ver sozinho.
Tome o mais breve caminho
Voando ou cortando a mata,
Vá pedir àquela ingrata
Que do orgulho se solte,
Esqueça as mágoas e volte
Senão essa dor me mata...




Campina Grande, 31 de março de 2009.

domingo, 22 de março de 2009

DO NADA PARA O ETERNO

Para uma musa que verseja...


Outra vez desligaste o celular...
E um silêncio gritante me fulmina!
Eu me flagro a sair sem disciplina,
Como um louco na rua a te buscar.

Mais um trailer, um boteco, mais um bar...
E a certeza cruel se descortina:
Não existe nas ruas de Campina
Mais um ponto onde eu possa te encontrar...

Se te escondes de mim, não tens motivo!
É, querer sepultar-me ainda vivo,
Sepultar-se também, inconsciente...

Seguiremos, por fim, a mesma meta!
Se não sabes, a sina do poeta
É morrer pra viver eternamente!


Campina Grande, 20 de março de 2009.

sexta-feira, 6 de março de 2009

SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO / QUANDO A VEJO DOENTE!

(À minha Musa – quando numa “enfermidade”)


Vê-la sorrindo e cantando,
Como comumente a vejo,
É vê na vida um lampejo
Que vai se proliferando,
E segue contaminando
A quem estiver presente.
Mas vendo-a assim, descontente,
Dói-me n’alma e no instinto.
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Seu humor contagiante,
Sua altivez, sua graça,
Seu jeito de boa-praça,
Seu fervoroso semblante;
Seu otimismo constante,
Seu sorriso incontinente,
Não podem ser diferente
Porque, pra lhe ser sucinto,
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Quem dera, meu Deus, que um mal
Nunca lhe acontecesse;
Que nunca empalidecesse
Sua face angelical.
Violando o natural
Que Deus pintou, certamente,
E, de gosto, um riso ausente
Nem Ele pinta ou eu pinto.
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Também sei que a “enfermidade”
Pela qual está passando
É bem menor do que quando
Alguém lhe nega a verdade.
Se a contrariedade
É pra você deprimente,
Prometo: daqui pra frente
Nem a pedido eu lhe minto!
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Se lhe dei algum motivo
Para abrir seu apetite,
Faço-lhe agora um convite
Em forma de lenitivo:
Vamos escutar “ao vivo”
Um cantador de REPENTE,
Naquele lugar da gente,
Tomando um bom vinho-tinto.
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Campina Grande, 05 de março de 2009

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

MEU GRANDE AMIGO JOSÉ

Carta a "Zé de Lenita" no Iraque - 1985


Visitei, no mês “trasado”
O velho Sítio Degredo
E senti que tinha errado
Por não ter ido mais cedo.
Não sei se já estás sabendo
Mas Degredo está chovendo
Água, ouro e alegria
E, enquanto eu não me esqueço,
José, o teu endereço
Peguei com Antonio e Titia.

Resolvi dar-te umas linhas
Já que aí estás sozinho,
Para dar notícias minhas,
Da família e de Brejinho.
Eu já ando em outros trilhos,
Já sou “papai” de dois filhos:
Um já anda, o outro não;
Antonio tem uma menina,
Mora aqui mesmo, em Campina,
Mas vai sempre ao sertão.

Vão bem aqui mãe e pai
Vivendo como Deus quer;
O “Mite”, no Rio, vai
Muito bem com a mulher.
Ana, Artemízia, Altair,
Arlete, Adjayr,
Albânia e Nenê - em paz,
E as famílias lá por fora
Vão bem, porque até agora
Não nos reclamaram mais.

Em Degredo, ano passado,
Todo mundo lucrou bem:
Deu pro gasto, deu pro gado.
E deu pra vender também.
Não secou mais um açude,
O gado tem mais saúde,
Com mais água e mais comida;
Este ano começou
Bem, como o que se passou:
Já tem lavoura crescida.

Você precisa voltar
A viver conosco aqui;
Rever a mulher mandar
Nos troços de Valdemir;
Bastião mijar na cama,
Zé Delfino e sua fama,
Cherito e sua cachaça:
Com a cara cínica, sorrindo,
Encher o “talo” em Arlindo,
E chorar roendo na praça.

Você precisa voltar
A viver conosco aqui,
Vê Antonio Gago jogar,
Vê os versos de Zizi;
Matar a velha saudade
Em Placa de Piedade,
No jogo de futebol.
O gelo não dá saúde,
Venha pra beira do açude
Pras velhas manhãs de sol!

Você precisa voltar
A viver conosco aqui,
Pra comer o mungunzá
Com tripa, bucho, e sair...
Ir lá, na mina de ouro,
Ver a casaca-de-couro
Cantar nas manhãs de sol.
Pra ver as flores se abrindo,
Parecendo estar sorrindo
Ao canto do rouxinol.

Você precisa voltar
As viver conosco aqui,
Ir ao baixio e chupar
Uma manga bacuri.
Chupar uma cana fria
E às dez horas do dia
Voltar pra casa, sem pressa,
Assar carne sem enfeite,
Comer com cuscuz com leite
E sentir que a vida é essa.

Você precisa voltar
A viver conosco aqui,
Mandar a mulher passar
Ferro na roupa e sair;
Andar até a cidade
E sentir quanta amizade
Ali deixaste plantada,
“Tomar uma” com rolinha,
Voltar pra casa à tardinha
Pra jantar com a filharada.

Aqui vou deixar, José,
As lembranças de um parente.
Peço-lhe: assim que puder
Venha visitar a gente.
Mas, escreva mesmo assim;
Se lembre sempre de mim,
Valdemir, Antonio e Zito.
Do mesmo jeito aqui faço.
Nada mais. Um forte abraço!
ALFRÂNIO GOMES DE BRITO.

Campina Grande – fevereiro de l985.