terça-feira, 31 de março de 2009

PÁSSARO FERIDO

Canário, que trila ardente
No galho da goiabeira,
A tua musa altaneira
Também trila de contente.
Os dois, juntinhos, somente
Tomam conta do festim.
Comigo já foi assim...
Hoje estou neste fadário:
A minha musa, canário,
Não quer mais cantar pra mim.

Vivo cantando sozinho
Sem escutar sua voz,
Pois quis o destino atroz
Que ela abandonasse o ninho.
Me responda, canarinho:
Aonde foi que eu errei?
Será que desafinei
No meu canto desvairado
Tanto assim, que perdoado
Por ela eu não mais serei?

Será que o meu pecado
Por menor que parecesse
Foi tanto que eu merecesse
Por ela ser desprezado?
Será que meu malfadado
Destino é viver sem ela?
Tomara que esta procela
Não vigore e tenha fim!
Fica penoso pra mim
Ter que cantar longe dela.

Me diga onde agora voa
Tão faceira, tão frajola.
Pois pra prendê-la em gaiola
Não existe uma pessoa.
Você, que vagueia à toa
Singrando esses céus a fora
Lhe implore que volte agora
Pois, se já cantei errado,
Fiquei mais desafinado
Depois que ela foi embora.

Tu que cantas nas alturas
Com pureza e sem desdém,
Com a grandeza de quem
Ignora partituras,
Vê se abranda as amarguras
Por que passa o trovador.
Ide à busca, por favor,
Porque sem ela, a dueto,
Me sinto igual assum preto:
Cego e cantando de dor!

Por isto, meu amiguinho,
Peço pela última vez:
Desfaça o que ela me fez,
Não queira me ver sozinho.
Tome o mais breve caminho
Voando ou cortando a mata,
Vá pedir àquela ingrata
Que do orgulho se solte,
Esqueça as mágoas e volte
Senão essa dor me mata...




Campina Grande, 31 de março de 2009.

domingo, 22 de março de 2009

DO NADA PARA O ETERNO

Para uma musa que verseja...


Outra vez desligaste o celular...
E um silêncio gritante me fulmina!
Eu me flagro a sair sem disciplina,
Como um louco na rua a te buscar.

Mais um trailer, um boteco, mais um bar...
E a certeza cruel se descortina:
Não existe nas ruas de Campina
Mais um ponto onde eu possa te encontrar...

Se te escondes de mim, não tens motivo!
É, querer sepultar-me ainda vivo,
Sepultar-se também, inconsciente...

Seguiremos, por fim, a mesma meta!
Se não sabes, a sina do poeta
É morrer pra viver eternamente!


Campina Grande, 20 de março de 2009.

sexta-feira, 6 de março de 2009

SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO / QUANDO A VEJO DOENTE!

(À minha Musa – quando numa “enfermidade”)


Vê-la sorrindo e cantando,
Como comumente a vejo,
É vê na vida um lampejo
Que vai se proliferando,
E segue contaminando
A quem estiver presente.
Mas vendo-a assim, descontente,
Dói-me n’alma e no instinto.
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Seu humor contagiante,
Sua altivez, sua graça,
Seu jeito de boa-praça,
Seu fervoroso semblante;
Seu otimismo constante,
Seu sorriso incontinente,
Não podem ser diferente
Porque, pra lhe ser sucinto,
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Quem dera, meu Deus, que um mal
Nunca lhe acontecesse;
Que nunca empalidecesse
Sua face angelical.
Violando o natural
Que Deus pintou, certamente,
E, de gosto, um riso ausente
Nem Ele pinta ou eu pinto.
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Também sei que a “enfermidade”
Pela qual está passando
É bem menor do que quando
Alguém lhe nega a verdade.
Se a contrariedade
É pra você deprimente,
Prometo: daqui pra frente
Nem a pedido eu lhe minto!
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Se lhe dei algum motivo
Para abrir seu apetite,
Faço-lhe agora um convite
Em forma de lenitivo:
Vamos escutar “ao vivo”
Um cantador de REPENTE,
Naquele lugar da gente,
Tomando um bom vinho-tinto.
SÓ DEUS SABE O QUE EU SINTO
QUANDO A VEJO DOENTE!

Campina Grande, 05 de março de 2009